Fábio Bento (31/12/2022)
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Com a chegada de um novo ano já estaremos acostumados àquele fenómeno interessante que reside por alguma mentes, da renovação da forma como encaramos a vida. Pois alguns leitores terão ou idade ou maturidade suficiente para perceber que o acto específico de usar cuecas azuis ou vermelhas durante a virada não terá influência sobre a maneira como irá correr este intervalo de dias que acreditamos ter as suas próprias características, únicas em relação a todos os outros 2022 espaços, organização desenhada por Clauvius e promulgada por Gregório XIII.
Esperamos uma vida melhor não sabendo que muito possivelmente, os melhores dias os estamos a experienciar nesta mesma altura. O afecto, a esperanca à qual nos agarramos, a ânsia pelo está por vir, ao que desejamos que venha, é das maiores causas de miséria e stress da actualidade, não nos consolamos, achamos que podemos ser melhores, seja lá o que isso fôr, apenas achamos. Conselho: inspirar, expirar, repetir, viver agora.
Ao mesmo tempo, e isto parece contraproducente eu sei, revelamos uma coisa estranha, chamemos-lhe apatia, em relação ao que se passa fora da nossa “bolha”, em relação às coisas que, pensamos nós, não nos afectam directamente por estar detrás do ecrã, aparentemente longe. A leviandade com que se vota por exemplo, num mundo ideal seria alvo de uma reflexão profunda de todos nós. Aliás, recentes (ou prolongados) escândalos do governo português de maioria absoluta provam mesmo isso, neste país vota-se pela retórica, pelo que parece ser. Não se analisa ideologia partidária, não se lêem programas políticos, e muito menos se consulta o historial de voto de deputados e partidos na AR. Com certeza, revoltamo-nos muito, no café, no Facebook, Twitter, (Instagram é para vaidades), mas rapidamente se esquece, como disse Saramago “Somos um povo que arde muito, mas queima depressa”. Será problema de uma certa demência colectiva?
Não sei. Não compreendo, e tampouco me parece que vá ser desta que almeje compreender.
A apatia transfere-se também para outras valências. Como as alterações climáticas. Excluindo os grunhos (peço desculpa ao leitor por não ter feito um “memo” antes de começar a escrever estas crónicas, mas não trarei especial atenção a não ofender. Terão o seu direito de ficar ofendidos, com toda a validade. Mas temo que não terão, nem ninguém terá, o direito de não ser ofendido) que continuarão a negar a existência de tal processo, alegam dizê-lo por convicção, mas no fundo todos sabemos que por interesse, ninguém pode dizer de consciência impoluta que nada se está a passar. Agora, estaremos todos a fazer o melhor que podemos para minimizar o impacto para as próximas gerações? Eu sei que não. Mas a solução, embora extremamente dependente de um esforço individual não poderá totalmente se fiar no mesmo, mas sim cumulativamente de medidas governamentais. Governos que terão de abandonar a tentação de proteger as grandes corporações e indivíduos mais abastados de fazer o que bem lhes der na marmita sem pensar nas consequências ambientais. Legislação, legislação, legislação. Divago, isto para se traduzir em quê? Combate às alterações climáticas sem luta de classes, nada é senão jardinagem.
Dois temas, uma crónica, e pouco critério. Espero desde já, caro leitor, que este Ano Novo que começa, segundo tal intervalo gregoriano, seja alvo de melhor organização do que este punhado de palavras que aqui encontra.
Boas entradas.
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