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Arte

Foto do escritor: junkyardhoundsjunkyardhounds

Carlos Paiva (11/11/2022)


Devia ser obrigatório as escolas de arte providenciarem um folheto informativo aos potenciais futuros alunos a explicar que, 90% da população não se interessa por arte. 90% da população fica de barriga cheia com futebol, libertinagem televisionada, política espetáculo e, religião. Dos restantes 10%, os tais interessados em arte, 90% só liga à arte da moda. Arte de sucesso, com visibilidade. A arte para as massas. Dos restantes 10% dos 10%, os interessados em arte não comercial, underground, de nicho, a arte que requer uma procura activa para ser encontrada, apenas 10% se interessa por arte experimental, arte inovadora, avant-garde.

Assim, os potenciais futuros alunos, caso passassem com sucesso todo o processo pedagógico formativo e se tornassem artistas legítimos, devidamente encartados, saberiam que as suas mais sinceras e genuínas intenções de mandar uma pedra ao charco, chegaria, numa boa hipótese, a 0,1% da população. Desses 0,1%, apenas 10% iriam verdadeiramente compreender o objecto artístico produzido. Desses 10%, talvez, e apenas talvez, o tal objecto artístico caísse no agrado de... 10%?

O artista que produz arte para gáudio de 0,001% de potenciais consumidores (numa boa hipótese, reforço), é um ser humano normal (embora não o aparente), com necessidades de sobrevivência idênticas às dos 90% da população que não liga à arte. Também tem contas para pagar, também tem que pôr pão na mesa. Para o conseguir, resta a esse artista recorrer ao mercado dos subsídios governamentais. Que, é ainda mais competitivo que o mercado da arte comercial. São mil cães a um osso, muitos têm pedigree e, frequentaram uma escola com mais credibilidade (leia-se: peso institucional, no limite: fama) que a dele. Nestas competições também se arrisca a encontrar os professores da escola onde se formou. Apesar do óbvio conflito de interesses, tudo é revestido de sã camaradagem e espírito de colaboração entre artistas. Infortúnio partilhado, custa menos.

Um folheto a explicar que as duas saídas profissionais possíveis para o potencial futuro aluno, artista a ser, se resumem a Operário Submisso ou Sacana Filho-da-Puta, ou ambos, o chamado artista multifacetado, pouparia imensas frustrações, horas de terapia, rios de dinheiro em drogas, cirroses hepáticas, pancreatites agudas e noites em claro.

Deixo a ressalva que, não pretendo influenciar, muito menos induzir em erro, com o optimismo expresso neste texto. Aconselho vivamente prudência, ponderação, discernimento, na tomada de decisões. Independentemente da paixão, "gosto por" ou "jeito para" que o leitor possa eventualmente julgar possuir.

Se as escolas carênciarem de verba disponível, o folheto poderia ser patrocinado por cadeias de fast-food, ou redes de supermercados. Porque o Bar da Kikas ia parecer mal.

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