João Ribeiro (26/12/2022)
Há anos que namorisco a ideia de escrever sobre cinema, no entanto, nunca o fiz. O que raio tenho eu para acrescentar?! Esta foi sempre a questão que fiz a mim mesmo e a verdade, é que não tenho resposta para ela. É muito provável que eu não tenha nada de interessante para dizer sobre cinema mas ainda assim, depois de meses sem conseguir tirar este filme da minha cabeça, sinto-me obrigado a fazê-lo. O "On the silver globe" é um filme que infelizmente poucos conhecem. Se um "Solaris", um "Stalker" ou mesmo um "2001: Odisseia no espaço" são filmes de nicho, não sei o que raio chamar a isto.
A longa-metragem é uma adaptação de um livro escrito pelo avô do realizador e publicado entre 1901 e 1911. A produção decorreu na Polónia em 1976 e 1977, até que um novo ministro cultural ordenou que a mesma fosse interrompida e o filme destruído. Estúdio e actores trabalharam em conjunto para salvar as fitas e 80% do filme foi lançado 10 anos mais tarde, em 1988. Apesar de incompleto, a experiência de o ver é não só imprescindível como totalmente arrebatadora.
Quatro astronautas aterram num planeta muito idêntico à terra e acabam por dar origem a uma nova civilização. Décadas mais tarde, um novo astronauta chega e é primeiro tido como o messias e posteriormente crucificado.
Dizer que o enredo é audacioso é dizer pouco. Dizer que os visuais experimentais não só rivalizam como superam "Dune" feito em 2021 não chega. E chamar de génio ao Zulawski por ter levado avante esta obra-prima existencialista não faz de todo jus ao que foi aqui conseguido.
Num mundo onde adultos perdem tempo a brincar aos sabres de luz e a ver filmes para crianças, "On the silver globe" é um dos poucos que merece ser mencionado quando se fala em ficção científica. Quando se fala em cinema. Quando se fala em arte.
Não ver este filme deveria ser um crime punido por lei.
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